Sucessão familiar nas oficinas: desafios e estratégias para uma gestão bem-sucedida
As oficinas mecânicas estão constantemente passando por transformações. Seja na busca pela qualificação dos profissionais, impactados diariamente por novidades da indústria automotiva, seja pela necessidade de entender melhor de gestão, o mundo dos mecânicos está intrinsecamente relacionado com o mundo dos negócios.
No Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nove entre 10 oficinas são empresas familiares, que respondem por 65% do PIB do segmento (dados de 2022). O fato, no entanto, não mascara uma realidade vivida diariamente pelos donos do empreendimento: como fazer a sucessão. Ou, na pior das hipóteses, para quem vai o negócio quando eu me aposentar?
Mecânicos experientes, que sabem do ofício como ninguém, muitas vezes se veem em uma encruzilhada na hora de formar seus sucessores. Primeiro, porque é preciso que alguém da família queira assumir, o que nem sempre acontece. E, segundo, porque quando existe algum filho ou filha para gerir, são muitos os entraves para passar o bastão.
Neste artigo, vamos explorar potenciais dificuldades sentidas pelos donos de oficinas e seus sucessores, com algumas dicas de como sanar. Claro que não existe receita de bolo para que o comando passe de pai para filho, filha ou outro familiar. Mas, em geral, as dores de uns são as dores de todos, e as estratégias, com adaptações, podem ser utilizadas por todos os negócios para uma transição tranquila e vitoriosa.
Conhecimento Técnico vs. Habilidades Gerenciais
É sempre bom destacar que a segunda geração, que já pega o negócio andando, tem um potencial muito maior de buscar competências técnicas para lidar com gestão. Se o fundador tem o conhecimento técnico como o principal aliado, aos sucessores cabe, além da técnica, associar as habilidades para poder gerir o negócio com eficácia. Nesse sentido, é muito importante saber lidar com os aspectos financeiros, administrativos, estratégicos e com gestão de pessoas.
Resistência à Mudança
Quando a segunda geração começa a interagir, é natural que os proprietários, que iniciaram o negócio, na maioria das vezes do zero, resistam. Ou porque não confiam que os novos vão saber o que fazer, ou porque acreditam que as inovações são perfumaria que nada agregam, ou por outros motivos que vão além do consciente. Aprender a delegar e confiar é uma dificuldade e tanto. E quando o negócio precisa ser passado para os filhos surgem diversos problemas, que causam desconforto e até desentendimentos. Então, se a decisão é pela sucessão, é fundamental que se respeite o espaço e o tempo de cada um, criando um ambiente favorável à inovação e à mudança.
Planejamento Inadequado
Planejar a sucessão é ainda a melhor forma de organizar tanto o ambiente de negócios quanto os sentimentos e comportamentos dos envolvidos no processo. Nesta hora, vale se servir de consultores que possam auxiliar a família no andamento. Ele pode ocorrer ao natural, o que é o melhor dos mundos. Mas planejar, em qualquer situação, ainda é o principal para evitar imprevistos e garantir a harmonia tanto na família como na empresa.
Outra questão referente à sucessão é que ela deve ser preparada quando o fundador está em pleno vigor. Nada de deixar para pensar no assunto às vésperas da aposentadoria ou quando acontece alguma tragédia. A sucessão eficaz é aquela planejada e, principalmente, desejada. Cerque-se de bons profissionais, com capacidade de mediação, para garantir que ela aconteça.
Entenda o contexto do aftermarket
Para preparar a sucessão, é necessário estar conectado com as tendências do aftermarket. É preciso perceber e entender os movimentos do mercado de reparação automotiva e identificar como a sua oficina se encaixa no momento atual e nos próximos anos. Quais as novidades que estão por vir? O quanto se conhece do mercado? Há o real desejo de permanecer na reparação veicular? Estamos compreendendo o que o nosso cliente deseja? Estas e tantas outras são perguntas que a família obrigatoriamente deve se fazer.
Tecnologia e Inovação
Da mesma forma como se deve olhar para fora das portas da oficina e observar os cenários, é necessário olhar para dentro, para as pessoas e os processos de tecnologia e inovação. Os sucessores precisam estar informados sobre as novas tecnologias, sobre sistemas avançados disponíveis nos veículos, sobre o impacto dos carros elétricos no seu dia a dia, entre tantas tendências e realidades que impactam o negócio. Estar por dentro desses temas e ter um olhar curioso e interessado já é um belo indicativo do quanto se quer a oficina para si ou não.
Outro ponto é a integração geracional, muitas vezes facilitada pela tecnologia. A união de expertise e novidade é saudável para o negócio, tornando-o sempre competitivo. Invista nessa troca de experiências.
Desenvolvimento pessoal
Os empreendedores precisam saber que precisam investir no desenvolvimento profissional e contínuo dos sucessores. Assim como eles precisam entender da técnica – por mais que eventualmente não atuem como reparadores – também é fundamental saber de gestão e liderança. Saber se relacionar com clientes, fornecedores e outros pares do segmento também são qualidades desejáveis do sucessor.
Comunicação Franca e Transparente
Compartilhar a visão de negócios dos fundadores é básico para que o negócio siga firme. Isso não significa que o sucessor vai estar olhando para o passado, mas sim que as bases estão estabelecidas e respeitadas. Com uma comunicação clara entre proprietário e sucessor, de forma objetiva, mas ao mesmo tempo fraterna, é possível chegar a excelentes consensos com relação ao futuro da oficina.
Programas de mentoria
O fundador é um grande detentor de conhecimento. Afinal, ele fundou o negócio e trouxe todo mundo até aqui. Essa experiência pode ser passada para os sucessores de modo informal, no dia a dia, ou de forma estruturada, por meio de programas de mentoria assistida, com acompanhamento regular e feedback construtivo. Escolha o que mais combina com o seu modelo de negócios e pratique. Isso vai desenvolver as habilidades de gestão nos sucessores ao mesmo tempo em que revigora o ambiente de trabalho.
Aqui, elencamos os principais pontos para se fazer a sucessão em uma empresa familiar como são as oficinas mecânicas. É natural que neste processo cada um encontre o seu caminho. Os desafios são gigantes e aparecem no dia a dia da operação.
Porém, o planejamento adequado, a vontade de compartilhar e de aprender e o desejo de perpetuidade do negócio são pontos cruciais que precisam ser observados para que se tenha uma sucessão mais tranquila, amorosa e de resultados.
Quando todos estão na mesma página, de mente aberta ao novo, o legado se mantém e se fortalece ao longo do tempo, tornando o negócio mais próspero e respeitado no mercado.
Se você gostou desse tema sobre sucessão nas oficinas, leia também a matéria que fizemos com o Professor Scopino, nosso parceiro aqui no Blog. Proprietário de empresa familiar, Scopino compartilha várias dicas de gestão: https://www.viemar.com/blog/oficina-em-foco/aprenda-a-fazer-a-gestao-da-oficina-mecanica.
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